terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Natal: época de contradições 2 - reflexão e metalinguagem

Eu me lembro que no primeiro ano de faculdade toda oportunidade de produção textual era para mim uma oportunidade de deferir uma crítica a algo que não me agradava. Acredito que isso não deva parecer novidade à ninguém, pois a maioria de nós quando escrevemos aliviamos algumas tensões por meio de nossa subjetividade textual - seja através de uma crítica assídua, maquiada, velada, etc.

Bom, a questão é que lembrei, hoje, que há quase dois anos atrás escrevi um texto intitulado “Natal: época de contradições". Infelizmente esse texto se perdeu nos computadores de repúblicas passadas, mas lembro-me de que nada mais era do que uma pequena análise crítica ao modelo de consumo durante a época de festas de finais de ano. Falava também sobre a promiscuidade de ONGs que se favoreciam desse momento para autopromoção em prejuízo dos necessitados. Algo semelhante a Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi.

Pois bem, era um exercício de aula que a professora pedira para que no encontro seguinte todos apresentassem suas produções. Eu me recordo que no dia em questão estava sentado nas últimas carteiras da sala e pelo tempo escasso, a professora me liberou da leitura - na verdade eu e mais alguns tantos, creio que mais da metade da sala. Porém, ela pediu que ao menos falássemos o título (não sei o que ela queria aferir com tal exercício, talvez o juízo de um livro pela capa?)

Blá, blá, blá, blá, blá, blá...
Natal: época de contradições

Surpreendi-me: ouvi alguns poucos risos (bem dispersos por sinal). Até hoje isso não me saiu da cabeça. Qual seria o porquê desses poucos, porém relevantes, risos.
Desde então, sempre pensei que a polêmica que pretendia instaurar era evidente a todos naquela sala. Mas tão evidente assim a ponto de gozação? Ou seria evidente a minha negação para os mesmos textos e temas de sempre de todos (um radical xiita para os mais belos olhos)?
Afinal, era sim uma crônica que poderia tratar de um tema já saturado, inegável, contudo não muito comum, na angulação que me vali, de se encontrar na imprensa brasileira (por razões óbvias como publicidade, lobby, aquecimento do mercado em época de final de ano, décimo terceiro, etc).
Hoje, podendo refletir melhor quase dois anos depois sobre as produções de, na época, uma sala de primeiro ano de jornalismo, só consigo afirmar com convicção aqui que era um texto válido! Uma produção que gostaria de ter exposto publicamente naquela sala para evidenciar as contradições que propus sobre o tema e as contradições dos respectivos textos “status quo” de meus colegas risonhos(no final minha vontade também era mandar um grande CHUPA para os que riram!).

Não vou ser hipócrita de dizer que me lembro dos textos daqueles colegas, muito menos dos que riram - já que nem identificá-los eu consegui. Mas felizmente, a história não para e as experiências não mais mascaradas vem à tona. Um jornal laboratório é suficiente para mostrar a fragilidade e o fiasco dos estudantes de jornalismo da “Geração Manual de Redação e Estilo” (essa é por minha conta).

Somente se reproduz na universidade e, por conseqüência, no curso de jornalismo.
Um pecado capital é experimentar. Isso é proibido. A repressão vem de cima ou de baixo, mas a mediocridade prevalece. Posso estar aqui, e agora, me valendo de uma postura um tanto arrogante para realizar essa crítica, porém, até então, ninguém me provou o contrário de que todos os finais de ano são iguais na mídia brasileira (ou mundial) e nas escolas de jornalismo - excetuando-se os veículos independentes.
Ou seja: são as mesmas pautas, os mesmo enquadramentos, as mesmas reflexões estáticas (pode parecer uma contradição, e é).

E um dia, este aluno de jornalismo quis criticar (ou evidenciar) essa contradição e somente propôs o título.
Ouviu risinhos de colegas.
Assim como o natal, isso também não era mais uma contradição?

5 comentários:

Luiz Augusto Rocha disse...

O Natal não é época de contradição, este tempo está em nós. E nem estou falando das estruturas, estou falando de nós, desta geração perdida e salvadora, dessa contradição de nos vermos afrontar e reproduzir esta nossa inconstância, nossa flexibilidade, nossa incapacidade de sermos papais noéis leiloando uma única bala para uma legião de famintos, clamando miserere nobis!

Pingu disse...

Na linha da reportagem de Marcos Zibordi sobre os estudantes de jornalismo, teríamos material suficiente para compilar dezenas esse tipo de situação estarrecedora e escrever um livro.

Só não sei se seria cômico ou trágico!

Abraço,
Pingu

Alberto disse...

Os professores do Depto de Comunicação Social, raríssimas exceções, apenas impõe o modelo tradicional.
Os estudantes,exceções ainda mais raras, não questionam a adoção de tais modelos e não propõe alguma inovação nos espaços que ainda restam para produção universitária.

A galera "Manual de Redação" está crescendo absurdamente nos bancos do curso de jornalismo da Unesp. A tendência é piorar.

Abraço

Giovanni Giocondo disse...

Acredito que as matérias que tratam do uso do 13º são as mais perversas, principalmente quando acompanhadas, na televisão ou nos jornais impressos, da publicidade de grandes magazines de roupas, móveis e eletroeletrônicos, incentivando o consumo e o gasto como forma de felicidade.

Não se pensa em investimento em cultura, viagem ou mesmo num projeto particular. Apenas em tênis, geladeiras, video games, e outras mordomias.

Enquanto nosso governo federal incentiva, levanta a bola, a mídia se limita a cortar! E usar de uma conquista histórica do trabalhador para fazê-lo refém de dívidas, financiamentos e objetos supérfluos

Enio Lourenço disse...

Peço alguns dias de paciência aos caros leitores e comentadores desse blog (poucos, mas fiéis.rs), pois com o final do semestre estou um tanto sem tempo para responder aos comentários. Contudo, não os esqueci, e acredito que existem algumas polêmicas que devemos dar andamento.

Atenciosamente
Enio